Poesia
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Soneto de Todas as Putas
por Bocage


Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
 
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:[1]
 
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
 
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.

Notas[]

  1. Sendo este um dos sonetos de autoria disputada, Bocage afirma que, caso tivesse sido o autor, teria escrito o oitavo verso da seguinte forma: Não passa o cono teu por cono honrado. Alguns atribuem como sendo de verdadeira autoria de João Vicente Pimentel Maldonado. O poema gerou paródias diversas, dentre elas, o Soneto de Todos os Cornos.
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